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Ficha Técnica da Tese

Autor: Isley Borges Odèkunlé

Orientador: Leonardo Francisco Soares

Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Instituto de Letras e Linguística da UFU (ILEEL)

Prog. de Pós-Graduação em Estudos Literários (PPGELIT)

Data da defesa: 22/09/2022

Intitulada “Ecos de orixá no palco-terreiro de Maria Bethânia: espaço, performance e cultura afro-brasileira”, a tese de doutorado, falando de maneira objetiva, estabelece uma relação entre a performance da intérprete Maria Bethânia e a espacialidade sagrada afro-brasileira. Em outras palavras, neste trabalho de pesquisa foi realizada uma imerção na ancestralidade e na oralidade dos terreiros para compreendê-las como matéria do saber e do fazer artístico de Maria Bethânia. O seu corpo, a sua voz, a sua presença no palco, as canções interpretadas por ela, os cenários e os figurinos de seus espetáculos, os encartes de seus álbuns, sustentam uma performance que traz para a centralidade da cena a cultura afro-brasileira, cultura ainda cuidadosamente preservada e encontrada nos terreiros brasileiros.

O espaço do terreiro, em um país que convive com o racismo estrutural e com a intolerância religiosa, emerge como lugar de preservação cultural e resistência negra. No Brasil, os iorubás chegaram como escravizados na segunda metade do século XIX. Estes povos africanos, por meio da diáspora negra - ou seja, por meio do processo forçado e violento de desterritorialização de África e de reterritorialização no Brasil - trouxeram a sua cultura e, assim, a sua gastronomia, os seus modos de ver e pensar, as suas divindades, a sua liturgia e a sua fé, conformando o que conhecemos hoje como cultura afro-brasileira.

O candomblé é resultado deste complexo processo diaspórico e funda-se na ideia da reinvenção de tempos e espaços africanos em terras brasileiras. Forjado a partir de estilhaços da memória do povo negro escravizado que chegou ao Brasil relegado à própria sorte, o candomblé introjetou em sua ética, em sua estética, em seus ritos e mitos, toda a diversidade de conhecimento africano. Quando nos referimos ao candomblé, no decorrer da tese, estamos falando especificamente do candomblé ketu, ou seja, do candomblé formado a partir da influência étnica dos nagôs/iorubás, povo que cultua as divindades chamadas orixás. Este recorte se deve porque a intérprete Maria Bethânia é iniciada para o candomblé originário desta nação, em uma das casas tradicionais da religião, o terreiro do Gantois, o Ilé Íyá Omi Áṣe Ìyámase, em Salvador - BA e, como observa-se em sua trajetória artística, incorpora elementos da cultura iorubá em sua performance.

O movimento circular, que está presente na dança que move os iniciados no centro do barracão dos terreiros brasileiros, alude ao conceito filosófico iorubá de orí. O orí, ou a cabeça, é cultuada e reverenciada no candomblé, sendo ela um orixá, portanto, uma divindade. O processo de pesquisa que se desenrola na tese de doutorado é, então, orí-entado e desenha-se como um percurso circular pelos espaços sagrados da cultura afro-brasileira, mais especificamente do candomblé, a partir do corpo, da voz e da presença, elementos que estabelecem a performance da intérprete do Brasil, Maria Bethânia. De um lado, no centro do espaço sagrado do terreiro, encontramos o ariaxé, ponto de conexão entre o mundo visível e o mundo invisível. Tudo ocorre em torno deste ponto central de força. Do outro, tomamos o palco como ponto de força para o acontecimento da performance da intérprete.

Resumo do trabalho de pesquisa

Do palco de Maria Bethânia, espaço público para vivência de seu ofício, ecoa a tradição africana iorubá com o seu denso arcabouço filosófico-cultural em torno das ancestralidades divinizadas, chamadas orixás. Esta Tese de Doutorado estabelece uma relação entre a performance da intérprete Maria Bethânia e a espacialidade sagrada afro-brasileira. Neste trabalho de pesquisa imergimos na ancestralidade e na oralidade dos terreiros para compreendê-las como matéria do saber e do fazer artístico da intérprete do Brasil, epíteto que conferimos à intérprete a partir das conclusões às quais chegamos com o desenvolver do trabalho. O corpo, a voz, a presença, as canções, os cenários, os figurinos, os encartes de álbuns, sustentam uma performance que propicia um discurso que traz para a centralidade da cena a cultura afro-brasileira. O referencial teórico compreende os estudos sobre a espacialidade do sagrado afro-brasileiro (MENDES, 2015; PORTUGUEZ, 2015; PRANDI, 2001; OLIVEIRA, 1997), as formulações acerca do conceito performance (ZUMTHOR, 2014; COHEN, 2002; OLIVEIRA, 2016) e, ainda, a fortuna crítica em torno da canção brasileira e da trajetória da cantora (MARCOS, 2008; FORIN JUNIOR, 2017). A metodologia empregada é a autoetnografia (SANTOS, 2017), refletindo a trajetória do autor em sua vivência no candomblé ketu e os conhecimentos da tradição africana obtidos no terreiro pela oralidade. Os resultados apontam para uma performance única, que mobiliza saberes ancestrais do interior dos terreiros brasileiros, evocando as espiritualidades da terra, das águas, das matas e dos ventos.

 

Palavras-chave: Maria Bethânia; performance; espaço sagrado; cultura afro-brasileira; orixás.

Sumário

1 PRÓLOGO 

1.1 Terreiro: espaço ancestral de resistência da cultura afro-brasileira 

1.2 Maria Bethânia, intérprete do Brasil 

    1.2.1 Interpretação e performance: tecnologias no espaço-palco 

     1.2.2 Amálgama de crenças: candomblé e catolicismo 

     1.2.3 Bethânia apresenta a Literatura 

1.3 As fontes, a metodologia e o processo da pesquisa 

 

2 EXU E O PRINCÍPIO DAS CENAS 

2.1 Inaugurando os ritos: o pàdé de Exu na chegada de Bethânia 

2.2 O corpo, a voz e a presença que sacralizam o palco 

 

3 A TERRA, AS ORIGENS, A ANCESTRALIDADE 

3.1 A gramática e a pedagogia dos sons ancestrais 

3.2 As origens performativas afro-brasileiras: cantar-dançar-batucar 

 

4 NAVEGANDO EM TANTAS ÁGUAS: PERFORMANDO O PODER FEMININO 

4.1 Lama, rio, mar e névoa: águas, ìyágbàs e poder feminino 

4.2 As águas de Bethânia  

 

5 KÒ SÍ EWÉ, KÒ SÍ ORIṢÁ: O ESPÍRITO DAS MATAS, O ESPAÇO DAS FOLHAS 

5.1 A alquimia das folhas, sangue negro do candomblé 

5.2 Caboclos e orixás: espíritos e divindades da mata sagrada 

5.3 Terreiro, sustentabilidade e preservação ambiental 

 

6 TEMPO BOM, TEMPO RUIM: OIÁ, BETHÂNIA E A PERFORMANCE VENTANIA 

6.1 Oiá, divindade dos ventos, dos raios e das tempestades 

6.2 A divindade-mãe e a intérprete-filha 

6.3 Oiá-Bethânia: quando a divindade figura na performance da intérprete 

 

7 OXALÁ E O FINDAR DAS  CENAS 

7.1 O palco-terreiro e o xirê Bethânico

7.2 Esta tese é um ebó 

7.3 O findar da cena: o que Bethânia ensina antes da despedida 

 

REFERÊNCIAS

Leia a Tese:

Convite da defesa da Tese

Imagens do dia da defesa

Imagens: Fernando Brito Monteiro

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